SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar fechou em alta de 0,35% nesta sexta-feira (6), a R$ 5,591, tendo como pano de fundo a divulgação de dados de emprego mais fracos do que o esperado nos Estados Unidos.
A moeda chegou a marcar mínima de R$ 5,52 no começo da sessão, mas os negócios foram afetados por incertezas em torno da magnitude do corte nos juros dos Estados Unidos, já que os números do “payroll” (folha de pagamento, em inglês) sinalizaram uma desaceleração controlada.
Já a Bolsa teve forte queda de 1,41%, aos 134.572 pontos, puxada pela cautela em torno da política monetária dos EUA e pela queda dos papéis da Vale e da Petrobras.
Relatório mais aguardado da semana, o payroll mostrou que a economia dos Estados Unidos abriu 142 mil vagas de emprego em agosto, ante 89 mil em julho, em dado revisado para baixo. Analistas consultados pela Reuters esperavam a criação de 160 mil vagas.
A taxa de desemprego, por sua vez, recuou para 4,2%. Em julho, estava em 4,3%, maior patamar em mais de três anos. Já os salários aumentaram 3,8% em relação a 2023, depois de avançarem 3,6% em julho.
A leitura é que a divulgação mostrou uma desaceleração ordenada, sem grandes deteriorações nos índices de empregabilidade do país.
Os números do mercado de trabalho têm ditado as apostas sobre o ritmo que o Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA) poderá cortar os juros na próxima reunião de política monetária, marcada para os dias 17 e 18 de setembro. A taxa está na faixa de 5,25% e 5,50% desde junho do ano passado, o patamar mais restritivo em duas décadas.
Ao longo da semana, uma bateria de relatórios de emprego ajudou a calibrar as expectativas dos investidores em torno da magnitude do corte. Na quinta-feira, foi divulgado que o setor privado abriu 99 mil vagas em agosto, o menor número em três anos e meio, ante expectativa de 145 mil.
Na quarta, o Jolts (pesquisa de vagas de emprego e rotatividade de trabalho, na sigla em inglês) mostrou que as vagas abertas caíram para 7,7 milhões em julho, em meio a projeções de 8,10 milhões.
“O mercado de trabalho americano dá mais um indício de enfraquecimento, mas sem apontar para uma recessão. Os outros dados de emprego dessa semana vão na mesma linha”, diz André Valério, economista sênior do Inter.
Com os dados da semana em mãos, agentes financeiros chegaram a precificar um corte mais agressivo nos juros no próximo encontro. As apostas de redução de 0,50 ponto percentual se tornaram majoritárias até o início da tarde, reunindo 59% dos investidores, ao passo que a de 0,25 ponto caiu para 41%.
No final do dia, porém, as proporções se inverteram. Agora, a redução menor é a aposta mais consolidada, com 71% de probabilidade, e a de 0,50 ponto caiu para 29%.
“Está claro que o mercado de trabalho está desacelerando, e o Fed precisa começar a se movimentar”, disse Eugenio Aleman, economista-chefe da Raymond James, que acredita que o primeiro corte será de 0,25 ponto.
“Mas o céu não está caindo, o chão não está tremendo… E fazer um corte de 0,50 ponto enviará um sinal incorreto ao mercado de que a economia está desmoronando. E eles não querem fazer isso.”
O dólar costuma se depreciar à medida que os juros dos EUA caem, já que a queda nos rendimentos da renda fixa americana estimula a busca por ativos de maior risco. A incerteza em torno do tamanho do corte, porém, trouxe volatilidade para a moeda globalmente nesta sessão.
Para o real, há ainda outro fator de relevância: a discussão em torno da taxa básica de juros do país, a Selic, atualmente em 10,50% ao ano.
O Copom (Comitê de Política Monetária), desde a última reunião do BC (Banco Central), tem reforçado que um novo ciclo de altas está à mesa para levar a inflação de volta ao centro da meta, se os dados indicarem necessidade.
O comitê trabalha com a meta de inflação em 3%, definida pelo CMN (Conselho Monetário Nacional, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) e com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima e para baixo. A taxa básica de juros é o principal instrumento do BC para controlar a alta de preços.
Novos dados divulgados nesta última semana acirraram apostas de que o Copom poderá elevar a Selic já no próximo encontro, também marcado para os dias 17 e 18 de setembro.
No segundo trimestre, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro cresceu 1,4% em comparação aos três meses iniciais de 2024, ante expectativa de 0,9% de analistas consultados pela Bloomberg. Já os números de emprego medidos pela Pnad Contínua mostraram que a taxa de desocupação recuou a 6,8% -o menor patamar para o período desde o início da série histórica do indicador, de 2012.
O avanço da atividade e o aquecimento do mercado de trabalho tendem a subir os preços ao consumidor, o que pressiona as expectativas de inflação. Com isso, a probabilidade de um aperto de 0,25 ponto percentual na Selic subiu para 97%, segundo a agência Reuters.
Quanto maiores os juros no Brasil e menores nos Estados Unidos, melhor para o real, que se torna mais atraente para investimentos de “carry trade” -isto é, quando investidores tomam empréstimos a taxas baixas e aplicam recursos em moedas de países de taxas altas, para rentabilizar sobre o diferencial de juros.
O mesmo vale para o Ibovespa, que costuma atrair investidores estrangeiros quando o apetite por risco cresce. No entanto, o principal índice do mercado acionário brasileiro recuou nesta sexta, puxado tanto pela cautela sobre a política monetária dos EUA, quanto pela desvalorização de papéis de grande peso.
Vale e Petrobras, as duas maiores empresas do Ibovespa, recuaram seguindo a desvalorização de suas commodities de referência.
A mineradora teve perdas de 1,25%, em linha com a queda do minério de ferro no exterior. Já as ações preferenciais e ordinárias da petroleiras se desvalorizaram 1,95% e 1,83%, respectivamente, seguindo o petróleo Brent.