BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O governo Lula (PT) enfrenta resistências no Senado em seu esforço para apressar a sabatina de Gabriel Galípolo para a presidência do Banco Central. Senadores da base aliada abriram articulações para que a sessão seja realizada no dia 10 de setembro, mas viram a discordância de outros parlamentares.
O senador Vanderlan Cardoso (PSD-GO), presidente da CAE (Comissão de Assuntos Econômicos) do Senado, chegou a sinalizar nesta quarta-feira (28) que seria possível fazer a sabatina de Galípolo naquela data.
Auxiliares do parlamentar dizem que, nesse cenário, haveria condições para que o indicado de Lula fizesse um périplo pelos gabinetes de senadores antes da sessão. A informação chegou a integrantes do governo e ao próprio Galípolo.
A costura, no entanto, foi desfeita por outros parlamentares e pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).
Há algumas resistências à data devido a atritos entre o Senado e o governo federal, incluindo o impasse criado pelo congelamento do pagamento de emendas parlamentares.
Outro fator é o envolvimento de parlamentares nas campanhas municipais, o que reduz o quórum do Senado. O próprio Vanderlan é candidato a prefeito em Goiânia. Alguns senadores gostariam de deixar a sabatina para novembro, depois das eleições.
Vice-presidente do Senado, o senador Veneziano Vital do Rêgo (MDB-PB) disse que acha o nome de Galípolo “muito bom” para o Banco Central. Ele conta, porém, que não há razões para pressa na sabatina, já que o mandato de Roberto Campos Neto só termina em dezembro.
“Só vamos ter uma semana [de votação presencial antes das eleições]. As três últimas semanas de setembro serão semipresenciais. Evidentemente, ninguém vai fazer sabatina online”, disse Veneziano.
Ele afirma que as sabatinas precisam de responsabilidade e que o Senado não será atabalhoado. “Não creio que o presidente [Rodrigo Pacheco] refaça o calendário que ele anunciou”, afirmou o senador, referindo-se ao acordo para a primeira semana de setembro ser a única presencial antes das eleições municipais.
O senador Angelo Coronel (PSD-BA), vice-presidente da Comissão de Assuntos Econômicos, avalia que o período eleitoral dificulta Galípolo a encontrar parlamentares e pedir votos. “Tudo leva a crer que fica para depois da eleição. Oficialmente, a indicação sequer chegou ao Senado ainda”, afirma.
Líder do PSD, o senador Otto Alencar (BA) tenta convencer os pares a antecipar a sabatina. Para ele, não há prejuízo em escrutinar Galípolo de forma remota na segunda semana de setembro. “Já fizemos sabatina semipresencial com o Kassio Nunes Marques [para o STF] na pandemia. Não há prejuízo”, lembra.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, elogiou a indicação de Gabriel Galípolo e afirmou que o governo vai trabalhar para a aprovação do seu nome.
“A escolha do presidente Lula pelo experiente economista Gabriel Galípolo para o cargo de presidente do Banco Central demonstra mais uma vez que o presidente Lula sabe indicar presidentes e diretores para o Banco Central”, afirmou.
Padilha citou que a indicação vai contribuir para que o atual governo repita feitos dos dois primeiros mandatos de Lula, obtendo crescimento econômico, redução da desigualdade e saúde das contas públicas ao mesmo tempo.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) disse que ainda não definiu se apoiará Galípolo ou não. “O importante é saber o dia depois: se ele vai ser um servo do Lula para fazer as maluquices de baixar o juros na canetada ou se vai manter a linha, quase unânime no Banco Central, de tomar as decisões com responsabilidade”, afirmou.
Atual diretor de Política Monetária do BC, Galípolo teve o seu nome indicado nesta quarta-feira (28) para suceder Roberto Campos Neto no comando do banco.
Segundo a legislação brasileira, cabe ao presidente da República a indicação dos nomes para a cúpula do BC. Posteriormente, os indicados passam por sabatina na CAE e, depois, levados ao plenário para aprovação.
Inicialmente, o governo manifestou o desejo de que Galípolo fosse sabatinado já na próxima terça-feira (3). Vanderlan, no entanto, expôs dúvidas e disse que haveria risco de um baixo quórum na Casa que inviabilizasse a sessão.
Agora, o governo trabalha para que a sabatina de Galípolo ocorra antes da próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), agendada para os dias 17 e 18 de setembro.