São Paulo, o mercado dos dois dormitórios – e dos imóveis de 30m² a 45m². Secovi-SP aponta tendências e desafios do setor

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Mão de obra envelhecida e pouca inovação são desafios para o setor da construção
  • Mercado imobiliário em São Paulo cresce em todas as linhas em relação a 2023
  • Dewsafios do setor incluem renovação da mão de obra e da captação com queda na poupança
Por Bruna Galati

Imóveis de dois dormitórios se destacaram em todas as métricas de performance segundo dados da mais recente Pesquisa do Mercado Imobiliário (PMI) do Secovi-SP. Em julho, eles foram responsáveis por 73% de todos os lançamentos, 72% das vendas, 61% da oferta, 53% do Valor Geral de Vendas (VGV) e 36% do Valor Global de Oferta (VGO). Ao lado deles, os imóveis na faixa de 30m² e 45m² de área útil (a segunda menor) também lideraram em todos os indicadores: 68% dos lançamentos, 66% das vendas, 50% da oferta, 43% do VGV e 22% do VGO. Em resumo, o dois-quartos pequeno é o objeto de desejo do comprador.

No mercado total também houve avanço nos indicadores. O volume de unidades vendidas entre janeiro e julho (54.945) ficou 36% acima do mesmo período de 2023 (40.280), assim como o VGV foi 24% maior (R$ 27,9 bilhões contra R$ 22,5 bilhões nos sete primeiros meses de 2023) e o número de lançamentos, que cresceu 46% (47.363 contra 32.344). Além disso, o indicador Vendas sobre Ofertas (VSO), que avalia a proporção de unidades vendidas em relação ao total ofertado, alcançou 60,3% em 12 meses até julho, diante de 52,4% do período de 12 meses encerrado em julho de 2023.

DESAFIOS – Apesar dos bons indicadores, o setor enxerga desafios intensos pela frente. Essa agenda embasou a 21ª edição da Convenção Secovi-SP, considerada o principal evento do mercado imobiliário nacional, encerrada no fim de agosto. Rodrigo Luna, presidente do Secovi-SP, fez uma retrospectiva dos principais acontecimentos que impactaram o Brasil nos últimos 20 anos, abordando os cenários econômico, político e social. Entre os destaques, mencionou as reformas Trabalhista e Previdenciária, a questão ambiental, e o crescente engajamento da construção civil com a agenda ESG (ambiental, social e governança). No entanto, Luna enfatizou que o setor ainda enfrenta grandes desafios, como a necessidade de evolução no urbanismo social e avaliar os impactos da Reforma Tributária. “O atual texto em discussão poderá dobrar a carga tributária para o setor, o que seria um desastre para o custo da habitação”, afirmou.

Outro desafio destacado na convenção foi tratado no painel sobre a mão de obra. David Fratel, coordenador do Grupo de Trabalho de Recursos Humanos (GTRH) do Comitê de Tecnologia e Qualidade (CTQ) e diretor do Grupo Kallas, apontou as questões envolvendo envelhecimento da mão de obra, atratividade e renovação da força de trabalho. “Nos últimos anos, a construção civil no Brasil tem enfrentado um desafio crescente: o envelhecimento da sua força de trabalho”, disse. Ele afirmou que de 2016 a 2024 a idade média dos trabalhadores aumentou de 38 para 41 anos. “E reflete uma tendência preocupante de falta de renovação e o desinteresse da geração mais jovem pelo setor.”

Fratel afirmou que apesar de existirem quase 10 milhões de jovens que não estudam e nem trabalham, o setor não consegue atraí-los. “Esse jovem precisa enxergar que a indústria está em visível transformação”, disse. “Mas é impossível atraí-lo se ele não enxergar que a construção civil está mudando para acolhê-lo.” O problema pode estar correlacionado ao cenário apresentado por Daniel Gispert, presidente da SteelCorp, que ressaltou a falta de inovação dentro da construção civil. “Em 100 anos, tivemos pouca inovação. O setor só é mais inovador que a pesca, que ocupa o último lugar. Ainda hoje, continuamos empilhando os tijolos.”

TENDÊNCIAS – Por outro lado, o evento também abordou as consequências relacionadas à diminuição da captação líquida das cadernetas de poupança, decisiva para o mercado imobiliário. O problema tem sido minimizado por novos produtos financeiros. Gabriela Nogueira, diretora-executiva de Real Estate do BTG Pactual, enfatizou a escassez de recursos provenientes da poupança e a crescente relevância do mercado de capitais. Ela observou que, à medida que a poupança decresce, o estoque de CRI (Certificados de Recebíveis Imobiliários) e o patrimônio líquido dos fundos imobiliários têm evoluído.  

Edson Ferrari, diretor de Investimentos e Gestão de Ativos da CBRE, foi ao encontro do que disse Nogueira e ressaltou a importância da captação de recursos para o segmento comercial, destacando que os fundos imobiliários têm sido responsáveis pelo maior volume de transações da empresa. Segundo Ferrari, esses fundos não apenas lideram as transações de compra de imóveis, mas também desempenham um papel crucial na captação de recursos por meio de certificados de recebíveis. 

Esses produtos tendem a ganhar espaço. Para Álvaro Rezende, diretor-executivo da Fator Asset, embora a poupança continue relevante, o mercado imobiliário tem demandado novas fontes de funding de forma urgente. Ele mencionou que operações como Cédula de Crédito Imobiliário (CCI) e Letra Imobiliária Garantida (LIG) estão ganhando popularidade. “A população e os investidores estão se sentindo cada vez mais confortáveis com esses títulos, o que aumenta a representatividade dessas fontes de recursos no mercado”, disse Rezende. Uma boa notícia para alimentar um mercado que tem demanda e ofertas crescentes.

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