Opositores pedem que Lula, 'ex-preso político', defenda prisioneiros na Venezuela

Uma image de notas de 20 reais

BUENOS AIRES, ARGENTINA (FOLHAPRESS) – Opositores venezuelanos entregaram aos embaixadores brasileiros em diferentes cidades pelo mundo uma carta ao presidente Lula (PT) em que pedem ao petista que pleiteie ao regime de Nicolás Maduro a liberação dos presos políticos na Venezuela.

No texto de três páginas, pedem que Lula, “com seu compromisso com a paz e os direitos humanos e como ex-preso político”, não permita que essa situação de repressão pós-eleição presidencial seja ignorada.

O presidente foi detido duas vezes. A primeira em 1980, quando era sindicalista na época da ditadura militar. A segunda em 2018, por acusações relacionadas a corrupção. Os opositores afirmam que a menção é à primeira prisão de Lula, na época dos anos de chumbo.

Também agradecem ao que chamam de preocupação de Lula diante da crise política e “sua firme vontade de interceder para alcançar o fim desse conflito”, em referência às tentativas, frustradas, do Brasil e da Colômbia de mediar uma conversa entre regime e oposição.

Levantamento da respeitada ONG Foro Penal, que atua em Caracas, aponta que 1.800 pessoas estão atualmente detidas por razões políticas na Venezuela. Ao menos 1.670 teriam sido detidas após 29 de julho, dia em que se anunciaram os resultados gerais da contestada reeleição do ditador Nicolás Maduro e tiveram início protestos.

Na carta os opositores também pedem que Lula pleiteie salvo-conduto para que os seis opositores hoje asilados na embaixada argentina em Caracas possam deixar a Venezuela sem que sejam presos.

A sede diplomática está sob os cuidados do Brasil desde que a equipe argentina foi expulsa de Caracas pelo regime. Nos últimos dias, no entanto, a ditadura retirou a custódia brasileira da representação, em um tenso final de semana. A situação está indefinida, e Buenos Aires busca outro país para assumir os cuidados do espaço.

Desde antes de assumir a representação dos interesses argentinos, o Brasil já vinha atuando na defesa do salvo-conduto para os seis asilados, dizem pessoas envolvidas nas tratativas. Como mencionou o assessor do presidente Lula para temas internacionais, Celso Amorim, Brasília chegou a ofertar um avião para tirá-los da Venezuela.

Em Caracas, algumas centenas de pessoas participaram do ato que caminhou em direção à embaixada do Brasil na capital, comandada pela diplomata Glivânia Maria de Oliveira, segundo vídeos compartilhados pelo portal jornalístico Efecto Cocuyo.

Elas carregavam bandeiras e cartazes com fotos de familiares e amigos presos nesta onda de repressão, a terceira dos últimos dez anos, período de Maduro no poder. Na carta e em discursos no local, dizem que a Venezuela vive hoje um “terrorismo de Estado”.

É este o termo também usado pela CIDH, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos, para se referir ao que ocorre na Venezuela. Em recente relatório o órgão criticou “as práticas de violência institucional, incluindo a repressão violente, as prisões arbitrárias e a perseguição política”.

“O regime no poder está semeando terror como ferramenta para silenciar a população e perpetuar o modelo autoritário oficialista no poder”, disse a CIDH. “A Venezuela precisa parar com práticas que violam os direitos humanos imediatamente, e restabelecer a ordem democrática e o Estado de direito.”

Já o ato na capital argentina, Buenos Aires, foi pouco expressivo. Cerca de 16 pessoas participaram na embaixada brasileira, e a coordenadora do grupo de María Corina Machado no país, Adriana Flores Márquez, entregou a carta ao embaixador Julio Bitelli, ao lado do deputado venezuelano Richard Blanco Cabrera, exilado na Argentina.

Os organizadores afirmam que o objetivo da manifestação era que fosse simbólica, e que o horário, marcado para às 9h, é pouco favorável para a comunidade de imigrantes que trabalha desde cedo.