Pochmann completa um ano no IBGE em meio a CNU e cobranças de sindicato

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RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – O economista Marcio Pochmann completa neste domingo (18) um ano como presidente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em meio a expectativa por reforço no quadro de funcionários da casa e cobranças de lideranças sindicais por melhores condições de trabalho no órgão.

Indicado ao comando da instituição pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Pochmann tomou posse em 18 de agosto de 2023. Um ano depois, o IBGE aguarda a aplicação das provas do CNU (Concurso Nacional Unificado), que ocorrem neste domingo.

A seleção, apelidada de “Enem dos Concursos”, prevê 895 vagas para o órgão de pesquisas. O reforço é comemorado, mas não vai recuperar toda a mão de obra perdida ao longo dos últimos anos, segundo a Assibge, entidade sindical que representa os funcionários do instituto.

“No concurso unificado, o IBGE foi contemplado com um número considerável de vagas, se comparado a outros órgãos, mas não chega a repor o que temos hoje de funcionários já em condições de se aposentar”, afirma Bruno Perez, diretor da Assibge.

O último concurso para o quadro permanente do instituto, com cargos de níveis superior e médio para diferentes áreas de conhecimento, ocorreu em 2015.

Segundo a Assibge, o número de servidores efetivos do IBGE era de 3.723 em julho deste ano. Ao final de 2010, o contingente estava em torno de 7.000, aponta a entidade.

Para realizar suas pesquisas, o instituto recorre também a trabalhadores temporários. Eles chegavam a 6.673 em julho deste ano, ou 64% do total (quase 10,4 mil), conforme a Assibge.

A entidade afirma que os temporários ficaram de fora do reajuste salarial aprovado junto ao governo federal. Por isso, afirma ter cobrado a extensão da medida junto ao MGI (Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos) e ao MPO (Ministério de Planejamento e Orçamento), ao qual o IBGE está vinculado.

Entre os servidores temporários estão os APMs (agentes de pesquisa e mapeamento), cuja remuneração é de R$ 1.512, patamar semelhante ao salário mínimo neste ano (R$ 1.412).

Os APMs, conforme a Assibge, são responsáveis por coletar dados relevantes do IBGE, como as estatísticas de mercado de trabalho e inflação.

Em manifestações recentes, Pochmann já lamentou o patamar de remuneração dos trabalhadores, mas indicou que mudanças em questões de carreira dependem de decisões do governo federal.

Questionado sobre o pleito da Assibge, o MPO disse que o tema está em discussão no MGI e que não faria comentários. A pasta da Gestão não respondeu.

Neste mês, Lula convidou Pochmann para participar de reunião ministerial em Brasília e falou em dar condições para o IBGE fazer mais. A Assibge, porém, afirma que a ausência de reajuste para os temporários contrasta com as declarações.

“Do ponto de vista do discurso, a nova presidência do IBGE valoriza mais os trabalhadores e conseguiu reverberar no governo federal uma maior valorização do instituto”, diz Perez, da Assibge.

“Agora, do ponto de vista de efeitos concretos, de remuneração e orçamento, os resultados ainda estão pendentes. Ainda não tivemos, por exemplo, reajuste para os trabalhadores temporários, que estão em situação calamitosa”, completa.

Pochmann defende novo sistema

Desde que assumiu o instituto, Pochmann vem falando em construir “um novo IBGE”, com planos de avanço na produção de estatísticas.

A indicação dele à presidência do órgão, porém, foi recebida com uma série de críticas de analistas do mercado financeiro e pesquisadores que questionam sua passagem pela presidência do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), de 2007 a 2012. Outra ala de acadêmicos demonstrou apoio ao economista no ano passado.

Uma das principais bandeiras de Pochmann no IBGE é a criação do Singed (Sistema Nacional de Geociências, Estatísticas e Dados).

A ideia é que o instituto atue como coordenador desse sistema, reunindo informações de diferentes bases, como registros administrativos (dados de órgãos públicos).

Wasmália Bivar, ex-presidente do IBGE (2011-2016), elogia o projeto. “Temos excelentes registros administrativos, e hoje em dia são bastante usados. Mas isso [criação do sistema] não é algo rápido”, diz.

“Não é meramente fazer um acordo, um convênio. É fazer um sistema que possa garantir ao IBGE o acesso aos dados para que possam ser utilizados como informações estatísticas”, completa Bivar, hoje professora da PUC-Rio.

Postura em rede social gera polêmica

Outra pauta já defendida pela atual gestão do instituto é a ampliação dos canais de comunicação para além das entrevistas coletivas direcionadas à imprensa.

Pochmann, inclusive, já usou seu perfil na rede social X (ex-Twitter) para compartilhar compromissos da agenda à frente do IBGE.

No espaço, ele também já publicou opiniões pessoais sobre diferentes assuntos, incluindo críticas ao neoliberalismo e ao patamar dos juros no Brasil.

Essa postura contrasta com a defendida por ex-servidores do órgão que pregam a discrição como forma de evitar polêmicas e a vinculação do instituto a temas políticos.

“Isso [análises pessoais] não é uma coisa boa para o IBGE, porque confunde a pessoa com a instituição. Não cai bem”, afirma Bivar.

“No fundo, não afeta o dia a dia institucional, mas cria ruídos. A instituição pode ficar muito melhor sem eles.”

Um levantamento da FGV (Fundação Getúlio Vargas) publicado pela BBC News Brasil indicou que o IBGE passou a ser mais visado em postagens recentemente. Parte das manifestações traz ataques e críticas à instituição e a Pochmann.

A reportagem pediu entrevista com o presidente e também enviou perguntas por email para o IBGE, mas não recebeu retorno.

Em entrevista ao jornal em abril, Pochmann declarou ter encontrado uma estrutura “depauperada” no instituto e falou em trabalhar para promover um “salto” na produção estatística.

Na ocasião, o economista também rebateu críticas ao seu nome e disse não ver risco de causar ruídos para o órgão com suas análises no X.