Vender cota de jato e helicóptero dá certo no Brasil. Setor sobe projeção para 2024 e investe mais de R$ 355 milhões em novos assets

Uma image de notas de 20 reais
Venda de jatos fracionados vive boom no Brasil
Crédito: Divulgação/Solojet
  • As quatro operadoras de compartilhamento de aeronaves que atuam no Brasil registraram crescimento em 2023. Volume de novos investimentos em ativos ultrapassa R$ 355 milhões
  • Aviação executiva está em alta no País. Frota de jatos, turboélices e helicópteros cresce com mercado de cotização aquecido, segundo dados da Associação Brasileira de Aviação Geral
Por Bruna Lencioni

As quatro companhias autorizadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) a operar na modalidade compartilhamento de aeronaves, no Brasil, vivem um momento de crescimento bem longe de ser um voo de galinha. Todas registraram alta no volume dos seus negócios em 2023, muito disso impulsionado pela categoria de cotização. O fenômeno aqui acompanha o que vem ocorrendo nos Estados Unidos, onde a cotização vem subindo muito além do táxi aéreo.

A Prime You informou que em 2023, manteve o crescimento de 50%, e em 2024, a estimativa é um salto de 70%. Já a Amaro Aviation disse que avançou 50% no ano passado e que projeta alta também de 50% para este ano. Na Avantto, o saldo foi de mais 23% entre 2022 e 2023. A Solojet comunicou que cresceu 150% nos últimos quatro anos, uma média de 37,5% ao ano e que em 2024 a expectativa está em 70%. Para dar conta dos novos clientes, todas estão investindo em aeronaves.  

A Prime You, que atua no compartilhamento de diversos tipos de assets, afirmou que investiu R$ 294,8 milhões em aviation, yatchs, real estate e veículos de luxo em 2023. A Solojet aportou cerca de R$ 61 milhões para adquirir aeronaves. As demais operadoras, Amaro Aviation e Avantto também colocaram dinheiro no negócio, mas não informaram os valores. Os investimentos da Prime You e Solojet, somados, chegam a R$ 355 milhões.

Escolhas do Editor

Impulsionada pela aviação executiva de modo geral, a frota vem se expandindo no Brasil. Segundo a Associação Brasileira de Aviação Geral (Abag), o número de jatos, turboélices e helicópteros de turbina avança no País.

A frota de jatos passou de 728 em 2021 para 780 em 2022 (+7%). Entre 2022 e 2023, a frota também cresceu, passando de 780 para 852 (+9,2%). A frota de aviões turboélices: entre 2021 e 2022 passou de 1380 para 1575 (+14%). E entre 2022 e 2023 seguiu avançando — de 1575 para 1775 (+12,6%). A frota de helicópteros: em 2021 eram 1032 aparelhos e passou para 1093 em 2022 (+5,9%). Entre 2022 e 2023, o número passou de 1093 para 1200 (+9,7%).

Prova de que o negócio é promissor no Brasil está na fila de espera na Anac, que tem em seus registros 10 pedidos de empresas que pretendem entrar no mercado de aeronaves compartilhadas. Questionados sobre quando elas podem entrar em funcionamento, a Anac disse que a informação não pode ser divulgada.

As companhias afirmam que há uma tendência global forte neste segmento de compartilhamento de bens de luxo. No setor de aeronaves, notou-se um boom após a pandemia de Covid-19.

Anac tem fila de espera de operadoras interessadas em abrir negócio no Brasil
Crédito: Divulgação/Amaro Aviation

ESTADOS UNIDOS — Nos Estados Unidos, a atividade de voos fracionados foi a única história de crescimento na aviação privada em 2023 – um aumento de 13,4% no ano, de acordo com o relatório TraqPak da Argus International. A NetJets, que se apresenta como a maior e mais diversificada frota de aviões privados do mundo, adicionou quase 90 novos jatos à sua frota no ano passado, e a Flexjet, que começou 2023 com mais de 90 jatos (250 no total), do que tinha antes da pandemia, adquiriu mais de 20 jatos médios e supermédios desde junho, segundo a publicação Business Jet Traveller, uma referência na aviação executiva no mundo. “Se levarmos em conta o que aconteceu com o maior mercado de compartilhamento de aeronaves do planeta, os Estados Unidos, onde o negócio hoje é maior do que o próprio táxi aéreo, podemos cravar que esta modalidade da aviação de negócios vai crescer muito mais nos próximos anos no Brasil”, disse João Melão, COO da Amaro Aviation.

A comodidade e o custo-benefício têm motivado tanto pessoas físicas quanto jurídicas a investirem nisso. A economia, para quem compra fração de um helicóptero, por exemplo, chega a 95% sobre o valor total do ativo, disse a Avantto. Além do preço ser competitivo, porque ao invés de comprar a aeronave em sua totalidade, você adquire cotas, o consumidor deste mercado também não se preocupa com a manutenção e a tripulação – está tudo no preço, mais mensalidade. Também tem o fato de que o usuário não fica refém do sistema aeroportuário, enfrentando filas e voos cancelados. “Você acaba tendo disponível a aeronave a todo momento, sem precisar dispor de mais dinheiro para a manutenção, de forma geral, nem lidar com tripulação ou reposição da mesma tripulação quando ela tira férias, por exemplo. Então, acaba sendo um modelo que tem um custo-benefício muito grande”, afirmou o CEO da Prime You, Marcus Matta.

PESSOAS JURÍDICAS — Outro motivo que explica a alta nesta modalidade, no País, é o fato de que a aviação comercial ainda tem pouco alcance. São 5.570 mil cidades brasileiras e as companhias chegam a 178 delas por falta de estrutura aeroportuária para pousos e decolagens de aeronaves de grande porte. Um dos setores que mais têm se beneficiado da cotização de aeronaves é o agro. Pessoas jurídicas, de modo geral, estão entrando neste modelo de consumo, disse a Abag.

Não são só os milionários pessoa física que estão em busca de rapidez, agilidade, exclusividade e luxo. Empresas têm comprado frações para deixar as aeronaves disponíveis para os seus executivos, especialmente aquelas que têm várias filiais pelo Brasil e que demandam bastante deslocamento. Na Solojet, a maioria dos clientes cotistas é pessoa jurídica. “Eu tenho 30% de pessoas físicas e 70% de pessoa jurídica. Isso não significa que a pessoa jurídica não possa utilizar para uso próprio o avião. Ele só simplesmente estruturou na pessoa jurídica dele. Isso não significa que ele só use para negócios”, disse Marcelo Orsolini, head da área comercial da companhia.

As operadoras dizem que quem utiliza a aviação privada vive uma experiência de ganho tempo e eficiência, e não sai mais. Portanto, segundo elas, não se trata apenas de um mercado de luxo em crescimento, mas de uma tendência, de comportamento de mercado em franco desenvolvimento.

Mais um exemplo da força deste setor é que os voos no aeroporto Catarina, em São Roque, focado em aviação executiva, do grupo JHSF, cresceram 61% em 2023, informou a companhia em relatório sobre o seu desempenho operacional e financeiro, no mês de março deste ano. O Catarina, inclusive, passou a funcionar 24h e já opera voos internacionais.    

EM ALTA — Segundo os dados da Abag, existem atualmente no Brasil quase 10 mil aeronaves privadas em operação. O número coloca a frota nacional na posição do planeta. A Abag considera que medidas como a MP Voo Simples (2021), que trouxe contribuições para o setor, como a certificação de novas modalidades de serviço, e os planos de investimento em infraestrutura aeroportuária no Brasil, que preveem construir, reformar ou modernizar cerca de 120 aeroportos regionais espalhados por todo o País ate 2026, estimularão a aviação.

Segundo divulgou a Avantto, atualmente, existem cerca de 370 mil clientes potenciais de serviços aéreos privados no Brasil. “Para que o mercado seja próspero, é necessária a combinação de três fatores: capacidade econômica de se consumir os produtos e serviços oferecidos, necessidade de uso e maturidade aeronáutica”, disse Rogério Andrade, CEO da Avantto.

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